Instituto Ricardo Brennand

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

O Brasil vai trocar de síndico

O Brasil vai trocar de síndico. Vem aí a síndica. Ela acena com a manutenção da gestão dele, aprovada pela maioria dos condôminos. Há, porém, dúvidas.

Os inquilinos se habituaram ao bem-bom. Há oito anos que ninguém precisa acordar cedo para acender as caldeiras e verificar se o Brasil roda no ritmo da Terra.


Como nunca antes na história desse país, o síndico cuidou de tudo. Sol do povo, zelou para que a nação girasse em torno dele e do seu próprio eixo.

Bem verdade que as taxas de administração subiram. Mas – que diabo! - era preciso corrigir as distorções da administração que veio antes.

Disseminara-se a impressão de que moradores de alguns andares eram mais bem tratados que os de outros. Daí a reviravolta da assembléia geral de 2002.

Reconduzido em 2006 a despeito da degradação moral de 2005, Sol da Silva preparou a assembléia de 2010. De porta em porta, vendeu a nova síndica.

Alegou que a volta dos velhos gestores submeteria o condomínio a graves riscos. A gestão seria privatizada. O país sairia de sua órbita.

Os dias ficariam mais curtos, as noites seriam intermináveis. Houve quem alegasse que não seria bem assim.

Recordou-se que os ex-administradores também tiveram méritos. O intelectual emplumado estabilizara as contas.

Antes dele, Deus, afinal o proprietário de tudo, provera a infraestrutura básica: as correntes marítimas, os ventos, as estações do ano...

Porém, como um Salvador que houvesse descido à Terra antes do Juízo Final, o síndico Sol apropriou-se de todas as virtudes e emplacou sua discípula.

Agora, ele diz que vai “desencarnar”. Algo que inquieta e suscita interrogações: Quem vai acender as caldeiras de madrugada?

Quem vai conferir se o Brasil gira na velocidade apropriada? Quem será capaz de garantir que as estações do ano virão na ordem correta?