Instituto Ricardo Brennand

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Um ano depois do terremoto, 1 milhão de haitianos ainda vivem em barracas



Sentada em frente à barraca que divide com o marido e os dois filhos na favela de Cité Soleil, em Porto Príncipe, a haitiana Clara Morézile, 19 anos, espera o sol baixar.

Clara Morézile
“Ele não agüenta o calor dentro da lona e começa a chorar”, diz, enquanto segura no colo o filho mais novo, Weindi, de um mês de idade.

“Tenho que sair e esperar até refrescar.”

Clara diz que quando ficou grávida, logo após o terremoto de 12 de janeiro de 2010, não imaginava que, um ano depois, ainda estaria vivendo em um acampamento de desabrigados.

No entanto, assim como mais de 1 milhão de haitianos que tiveram suas casas destruídas no desastre, ela segue morando em uma tenda e não vê perspectivas de mudança.

O terremoto destruiu a já precária infra-estrutura do país e deixou cerca de 230 mil mortos.

Apesar da comoção internacional logo após a tragédia, o governo haitiano reclama que pouco do dinheiro prometido chegou ao país, e as ruas da capital seguem tomadas por barracas.

Segundo dados da missão da ONU no país (Minustah), ainda há cerca de 1.300 acampamentos para desabrigados pelo terremoto, com um total de 1,2 milhão de pessoas.

Logo após o tremor, a Minustah havia estimado em 1,5 milhão o total de desabrigados. Segundo relatório da Organização Não Governamental internacional Oxfam, apenas 15% das moradias permanentes ou temporárias necessárias para abrigar esse contingente foi concluído.

Um grupo de países doadores, entre eles o Brasil, estabeleceu em março passado um fundo internacional com um caixa de US$ 5,3 bilhões, a serem gastos até o final de 2011.

O governo haitiano calcula que a reconstrução do país, no longo prazo, deverá custar US$ 11,5 bilhões.


Serviços

As tendas estão por todos os lados, inclusive no centro da cidade, em frente ao palácio presidencial, que permanece em ruínas, como um símbolo da tragédia.

Segundo moradores e líderes comunitários, em vez de diminuir, a população dos acampamentos têm aumentado.

Sem poder pagar os altos preços dos aluguéis, que triplicaram depois que o terremoto destruiu a maioria das casas da cidade, mais e mais haitianos acabam obrigados a viver em tendas.

Assim como na maioria dos acampamentos surgidos após o terremoto, as barracas em Cité Soleil foram erguidas aos poucos, sem planejamento, e os moradores reclamam da falta de serviços básicos.

Clara conta que quando chegou a hora de seu filho nascer, teve de ser carregada nos braços pela mãe e uma vizinha até o hospital mais próximo.

“É difícil. Não recebemos nenhum serviço de saúde”, diz.

As ruelas entre as barracas estão tomadas por lixo. Não há eletricidade, e nem sempre há água potável.

Nem todos os moradores usam os banheiros químicos instalados no acampamento, e muitos depositam os dejetos em valas a céu aberto.

Da BBC.