Instituto Ricardo Brennand

domingo, 16 de janeiro de 2011

Gaspari: ‘Cabral e Dilma culparam os outros e o povo’

Nos desastres em que os fenômenos naturais misturam-se à inatural omissão humana, muita gente se salvará quando for adotada uma providência simples.

Consiste em incluir nos avisos funerários e nos rodapés das lápides os nomes dos gestores públicos (municipais, estaduais e federais) que governaram a catátrofe.

Cabral e Dilma culparam os outros e o povo

Nas pegadas do flagelo do Rio, a expressão mais ouvida foi a de que se estava diante de um morticínio tonificado por "omissões históricas".

Exagerando-se na tática do retrovisor, pode-se chegar a Pedro Alvares CabralNa coluna que leva às páginas deste domingo (16), inclusive as da Folha, o repórter Elio Gaspari sugere um atalho à rota das caravelas:

Sérgio Cabral e Dilma Rousseff poderiam atender ao pedido que Carlos Lyra e Vinicius de Moraes encaminharam a Xangô: ‘Pôr pra trabalhar gente que nunca trabalhou’.”

Abaixo, três pedaços – um grande e dois menores — extraídas da torta servida por Gaspari:


“No ano passado, quando as chuvas provocaram a morte de 148 pessoas em Angra dos Reis e na Ilha Grande, o governador Sérgio Cabral estava em sua casa de Mangaratiba, a pouco mais de uma hora da cena das tragédias, e levou mais de um dia para dar o ar de sua graça. Veio com uma lição:

‘Eu não faço demagogia. Houve um tempo em que governador aparecia ao lado de traficante, como se ele fosse o John Wayne. Aqui, estavam dois secretários da área. Quem deve vir são as autoridades públicas que podem de fato dar solução e comando ao problema’.

Como dizia John Wayne, ‘o amanhã é a coisa mais importante da vida’. A conta de 2010 fechou com 316 mortos, passou-se um ano, e as chuvas voltaram. Desta vez, Sérgio Cabral não estava em Mangaratiba, mas no exterior.

Quando desembarcou no Rio, já haviam sido contados mais de 300 corpos por conta de temporais que começaram dois dias antes. (Os mortos passaram de 600.)

Ao chegar, Cabral contrariou sua lição de 2010 e visitou as áreas afetadas. Foi acompanhado pela doutora Dilma Rousseff, que ensinou: ‘A moradia em área de risco no Brasil é a regra, não é a exceção’.

Falta explicar por qual critério Dilma e Cabral definem ‘áreas de risco’. O centro de Friburgo? A cidade de Areal? Bairros urbanizados onde viviam pessoas que pagam IPTU?

Em 2010, a explicação demofóbica para a morte de mais de 30 pessoas no morro do Bumba, em Niterói, sustentou que a patuleia estava em cima do que fora um lixão. Estava, com a permissão da prefeitura, e ninguém foi responsabilizado.

Como no ano passado, os governantes anunciaram esmolas para já e planos para amanhã. Daqui até janeiro do ano que vem, Sérgio Cabral e Dilma Rousseff poderiam atender ao pedido que Carlos Lyra e Vinicius de Moraes encaminharam a Xangô: ‘Pôr pra trabalhar gente que nunca trabalhou’.