Instituto Ricardo Brennand

sábado, 30 de outubro de 2010

Dilma e Serra amenizam tom de ataques no último debate

Às vésperas da eleição, os candidatos à Presidência José Serra (PSDB) e Dilma Rousseff (PT) deixaram de lado a postura agressiva de encontros anteriores e preferiram trocar críticas indiretas no último debate da campanha.

Realizado nesta sexta-feira pela TV Globo, o programa teve um formato diferente, no qual 12 entre 80 eleitores indecisos pré-selecionados fizeram perguntas aos candidatos, com temas como saúde, educação, saneamento e programas sociais.
Debate de acusações deu lugar a um debate morno
Sem a possibilidade de fazer questões um ao outro, Dilma e Serra evitaram confronto direto e trataram apenas superficialmente de assuntos que dominaram debates anteriores, como acusações de corrupção envolvendo pessoas ligadas aos dois candidatos.
O tom mais ameno que predominou durante o programa foi quebrado apenas quando Dilma teve dificuldade de concluir um comentário por causa de um problema no cronômetro.
Na frente nas pesquisas, ela reagiu de forma descontraída. Quando o mediador William Bonner assumiu a culpa, ela respondeu que a culpa era do relógio, arrancando aplausos e risos da platéia.
Impunidade
Diante de uma pergunta, feita por um eleitor do Distrito Federal, sobre corrupção, Serra disse que o problema chegou a níveis "insuportáveis" no país e que isso compromete a auto-estima da sociedade.
O candidato afirmou que o exemplo precisa vir de cima: "Quando o chefe do governo, o presidente, o governador ou o prefeito, passa a mão na cabeça, o exemplo é péssimo."
O tucano lembrou então de casos em que não houve punição e citou o "dossiê dos aloprados", em referência às denúncias de que integrantes do PT teriam encomendado um dossiê falso contra Serra em 2006.
"É preciso fortalecer os órgãos de fiscalização, como o Tribunal de Contas, o Ministério Público, a Justiça", afirmou Serra, que também defendeu o fortalecimento da imprensa, "que não pode ser perseguida, coibida, nem pressionada".
Dilma afirmou que o governo Lula profissionalizou a Polícia Federal e que até mesmo pessoas graduadas foram investigadas. "O importante é investigar e punir, doa a quem doer", disse.
Segundo a candidata petista, a Polícia Federal foi um instrumento importante no combate à corrupção.
"Outro instrumento importante foi a Controladoria Geral da União, que investigou o caso das sanguessugas", acrescentou Dilma, referindo-se à investigação sobre uma quadrilha acusada de desviar dinheiro público destinado à compra de ambulâncias.
Contrabando
Como em embates realizados por outras emissoras, o tema da segurança também foi tratado nesta sexta-feira.
Para Serra, é preciso combater o contrabando de armas e drogas pelas fronteiras do Brasil. "Sem isso, o resto é fantasia, porque (o contrabando) fomenta o crime."
Ele propôs a criação do Ministério da Segurança, já que "o crime organizado é sempre nacional", e de um "fichário nacional de criminosos".
Dilma rebateu dizendo que já há um cadastro nacional de criminosos e de presos no Brasil: "O que estamos fazendo agora é juntar esses dois cadastros."
Além disso, a petista voltou a defender o uso de aviões não tripulados para controlar as fronteiras nacionais.
Programas sociais
Um eleitor de São Paulo questionou o que se deve fazer para que famílias que recebem o Bolsa Família consigam viver sem essa ajuda.
Serra prometeu fortalecer o programa e também criar novos incentivos, como uma bolsa adicional para que o jovem da família possa fazer curso profissionalizante.
"Quem cuida de pobre em São Paulo é o governo federal", afirmou Dilma, em referência ao governo do Estado que é controlado pelos tucanos.
A carga tributária do país também foi discutida no debate. Serra criticou o atual governo, citando o "impostômetro", que "deu R$ 1 trilhão de arrecadação neste ano, 50 dias antes do ano passado".
Em contrapartida, Dilma afirmou que "a arrecadação crescia 2% e hoje a discussão é se vamos crescer 7, 7,5 ou 8%".
Aumento 'sazonal'
A petista também prometeu ampliar o crédito da agricultura familiar no país e rebateu crítica de Serra sobre inflação no preço dos produtos, dizendo que o reajuste é sazonal. "Isso ocorreu em outros momentos no Brasil também, mas depois (o preço) volta ao normal."
Ao final do debate, Dilma elogiou as "perguntas concretas" dos indecisos e afirmou que estava triste apenas "por causa de calúnias sobre ela veiculadas na internet".
"Mas não guardo mágoas. Vou criar um país cheio de oportunidades", acrescentou.

Já Serra disse que debates são "uma das belezas da democracia", com os candidatos apresentando suas propostas com liberdade. "A segunda é a alternância de poder, ter um equipe nova, com novas idéias. Isso é uma coisa muito boa para o Brasil."